Repetir a mesma coisa que já fizemos? Ou encarar o medo de criar algo novo? Como não cair na mesmice de realizar sempre as mesmas coisas? Especialmente quando as ideias e ações que você realizou já se provaram acertadas? E temos (sem falsa modéstia) o prazer pelo reconhecimento de que fazemos aquilo muito bem. Como seguir perseguindo o frio na barriga, o que achamos que temos que fazer, mas sem repetir o que já fizemos. Provavelmente um desafio que todos que trabalham com arte e criatividade enfrentam, ou enfrentarão.
Por muitas vezes quando começamos algum processo criativo, se tivermos olhos e ouvidos atentos, iremos nos deparar com nossos vícios, ou com ideias que já tivemos ou com algo que já usamos e reusamos, e que estamos prestes a requentar mais uma vez. Claro que não estou fazendo aqui apologia de jogar nossos instintos e tudo o que temos dominado fora. Acho justo e honesto saber usar as habilidades, práticas e modos que desenvolvermos ao longo dos anos de inúmeras maneiras e nas mais variadas formas. Mas como podemos sempre arriscar, tentar algo distinto? Quando aquele impulso de fazer algo completamente diferente surge.
Muitas vezes começamos pelos mesmo caminho, adicionando ou subtraindo uma coisa aqui ou lá. Mas, geralmente, esses começos não são tão frutíferos.
É quase uma sabotagem da sua mente, você tenta ir para um lado e ela te leva para outro, você a acompanha e quando você menos espera chega em um resultado que pode ser apreciado, mas que se parece demais com outras coisas que você já fez. E você, ao menos, dessa vez, deseja algo diferente.
Então vem aquela sensação de estar repetindo você mesmo. Inúmeros questionamentos vêm a seguir. Se você só tem esse modo de operar. Até se você não é uma fraude, ou versão piorada de você mesmo.
Passados os períodos de autocrítica, você ainda segue com a impressão de que sua criatividade está quase se exaurindo. Você quase chega, ou muitas vezes chega, no bloqueio criativo. E quer parar. Porém, nessas horas é preciso avançar.
Criar estratégias que muitas vezes soam malucas. Ouvir músicas que você não está acostumado, ou não conhece até então. Assistir coisas que você mesmo jamais imaginou. Fazer tours e passeios (mesmo que pela web) a museus e galerias e buscar outras fontes, ver outras coisas, enxergar o mundo com outros olhos tão distantes dos seus.
Aos poucos, quase que milagrosamente os pontos vão se conectando, e quando menos se espera, alguma coisa (um tanto quanto disforme nessa etapa da criação) aponta no caminho. Surpreender-se. Expor-se ao novo, desconhecido (pelo menos para você).
Da potência que temos no bolso
Nessa etapa tente retirar todos os filtros, faça tudo sem julgamento, até uma coisa que você pensa que só fará por 10 minutos, pode se tornar um dos principais processos criativos de boa parte do seu trabalho. Converse com amigos e desconhecidos. Mas, principalmente, escute.
Tudo isso dá a certeza de que você irá conseguir criar algo novo, diferente e com qualidade que você se orgulhe de si mesmo? Não. E a graça de tudo isso é essa.
Você só descobrirá as maravilhas que está absorvendo e como elas irão reverberar na sua vida e criações, tempos depois. E provavelmente você irá agradecer a si mesmo por ter vivido aqueles riscos.
Arrisque-se. Eis uma tarefa necessária, na vida e na arte. Eu sei, dá medo. O tenho como companheiro constante também. Mas meus desejos têm sido maiores. E tenho me surpreendido positivamente.
E como diz um grande amigo e mestre nas artes: "Sempre tem alguma coisa que levará a vida a ser mais?"
Até o próximo encontro.
P.S.: O vídeo que compartilho é de um músico que descobri nessas andanças pela web quase uma década atrás. Aqui ele compartilha como inventou um outro modo de compor ao piano e como essa estratégia tornou-se importante na sua criação, como parte subversiva dentro do seu processo criativo.